Como ficar jovem por mais tempo? O que fazer para chegar bem aos 80, 90 anos? Ainda não há uma receita infalível para longevidade, mas ninguém tem dúvida de que seus hábitos podem contribuir para que essa meta seja alcançada. Segundo os cientistas, a alimentação, por exemplo, tem um papel importante no ganho de anos de vida. No Japão, as pessoas se alimentam com muito tofu, batata e peixe. Lá, segundo o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar japonês, em 2016 a longevidade dos homens atingiu a média de 80 anos, enquanto a das mulheres alcançou 87 anos
Na Espanha, país em que a expectativa de vida é de 83 anos, a chamada dieta mediterrânea, rica em azeite de oliva, vegetais e vinho, e o hábito de andar e comer devagar, com tempo suficiente para a digestão, parecem ter influência nesse número. Incrementar nosso dia a dia com atividades variadas, como ler e escrever, caminhar, tocar um instrumento e conversar com amigos, pode ajudar a mente e o corpo a continuarem saudáveis, nos protegendo de lesões que podem levar ao desenvolvimento de demências, como a doença de Alzheimer.
No próximo dia 1o de outubro, Dia Internacional do Idoso, há muito o que se comemorar em termos de aumento da expectativa de vida e melhoria da saúde. A chamada terceira idade está sendo bem mais longa e também pode ser muito mais prazerosa. Mas para isso é preciso cuidar do corpo e da mente, sempre, e quanto mais cedo começar, melhor.
Estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sugerem que o número de idosos com mais de 80 anos, os chamados superidosos, deve passar de 19 milhões em 2060 — um crescimento de mais de 27 vezes em relação a 1980. “Entretanto, mais importante do que viver muito, é viver bem. O tempo de vida perde seu sentido se não mantivermos nossa independência, autonomia e motivações”, diz o dr. Thiago Junqueira Avelino-Silva, médico do Núcleo Especializado de Geriatria do Hospital Sírio-Libanês.
E é justamente para conseguir manter isso que devemos, segundo ele, nos esforçar para levar uma vida com hábitos saudáveis, mesmo que pequenos sacrifícios sejam necessários. “Assim, não só teremos tempo de vida, mas principalmente qualidade de vida”, conclui.
A expectativa de vida de uma pessoa é determinada pela combinação de fatores genéticos e ambientais a que ela está exposta. No entanto, estudos com gêmeos indicam que a genética é responsável por cerca de 25% da longevidade de um indivíduo. “Isso significa que o estilo de vida de uma pessoa pode ter um impacto substancial no tempo esperado que ela irá viver”, ressalta o especialista.
Pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, estimam que um homem de 60 anos, que tenha diabetes e uma doença cardíaca, vive cerca de 12 anos a menos do que outro sem essas doenças. Na comparação entre mulheres, essa diferença chega a 13 anos. “Esses dados reforçam a importância de hábitos saudáveis, já que eles são fundamentais para prevenir e controlar doenças cardiovasculares e metabólicas”, explica.
Cuidados com a saúde na terceira idade
Com o envelhecimento, o funcionamento do sistema imunológico sofre alterações que tornam as pessoas idosas mais vulneráveis a uma série de doenças. Muitas se esquecem que algumas delas podem ser prevenidas por vacinas, e que não são apenas as crianças que devem ter seu calendário vacinal atualizado. “A maior parte das pessoas deve receber pelo menos quatro tipos de vacinas mesmo após os 60 anos: contra influenza (gripe); contra pneumococo; contra tétano, difteria e pertussis (coqueluche); e contra herpes-zoster. Orientações sobre a periodicidade e a indicação de cada uma delas devem ser reforçadas durante as consultas de rotina”, reforça o dr. Avelino-Silva.
Outra questão de saúde que muitas vezes acaba sendo negligenciada são os cuidados com os dentes. Segundo o médico, dentição doente ou incompleta, ou mesmo gengivas doentes, podem levar à desnutrição, que por sua vez está associada a uma série de doenças e ao aumento de mortalidade. “Além de higiene inadequada, muitas pessoas podem ter seus dentes prejudicados por secura excessiva da boca, tanto por efeito colateral de medicamentos quanto por não tomarem água em quantidade adequada. A hidratação é fundamental, assim como escovar os dentes regularmente, observar se próteses dentárias estão bem adaptadas e visitar o dentista pelo menos duas vezes ao ano”, esclarece.
Cinco dicas para viver mais, e com saúde
Além de avaliações médicas de rotina para rastrear doenças como hipertensão arterial, diabetes e alguns tipos de câncer, dr. Avelino-Silva diz que existem diversas medidas que uma pessoa pode tomar para se manter saudável e evitar o aparecimento de doenças.
1. Parar de fumar. O cigarro ainda é a causa de morte que mais frequentemente poderia ser evitada em vários países do mundo. Parar de fumar aumenta a expectativa de vida, diminui o risco de doenças cardiovasculares e neoplasias, e melhora o funcionamento dos pulmões. “Deixar de fumar em qualquer idade traz esses benefícios, mas quanto mais cedo, melhor”, frisa o médico.
2. Praticar atividade física regularmente. “Atividade física é uma das medidas mais importantes para permanecermos saudáveis e independentes quando envelhecemos, além de prevenir ou controlar uma série de doenças”, esclarece o especialista. Existem vários tipos de exercício que podem ser realizados. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda pelo menos 150 minutos de atividade aeróbica moderada, como caminhar rápido, por semana. Exercícios de força também são fundamentais, devendo-se trabalhar todos os grupos musculares pelo menos duas vezes por semana. “Mas o melhor tipo de atividade física é aquela que você gosta e que realmente irá fazer. Qualquer atividade é melhor do que o sedentarismo completo, e mesmo que suas condições de saúde dificultem a realização de algumas modalidades de exercício, profissionais da área da saúde sempre poderão auxiliar na identificação de boas alternativas”, diz o dr. Avelino-Silva.
3. Comer bem. Uma dieta saudável deve conter grãos integrais, frutas e vegetais frescos, carnes magras e derivados do leite com pouca gordura. Devem ainda ser evitados alimentos que sejam ricos em sal, açúcar ou gordura. Se for necessário perder peso, é recomendado pedir ajuda a um médico ou nutricionista para traçar um plano que seja viável e adequado para as necessidades nutricionais de cada indivíduo.
4. Limitar o consumo de bebidas alcoólicas. “Idosos são mais vulneráveis a efeitos nocivos do álcool”, ressalta o especialista. Bebidas alcoólicas podem interagir com diversos medicamentos e agravar problemas de saúde como hipertensão, problemas do fígado, memória, incontinência urinária e quedas.
5. Cuidar da pele. É recomendada a avaliação anual de toda a pele por um dermatologista. Também é importante observar o surgimento de novas manchas ou pintas, procurando a avaliação dermatológica precocemente se ocorrer mudança de tamanho, formato ou cor de uma pinta, mudança na aparência geral da pele, observação de áreas de eczema ou surgimento de nódulos.
Essas são medidas que devem ser seguidas por todas as pessoas, em qualquer idade, e que, independentemente de quando comecem a ser colocadas em prática, trazem sempre benefícios à saúde. “Muitas vezes, conforme vamos envelhecendo, tendemos a ter pensamentos como o de querer voltar no tempo, ou remoer sobre o resultado de decisões que poderiam ter sido diferentes. É muito mais produtivo nos focarmos no que podemos fazer no presente e nos prepararmos para chegar ao futuro em condições de viver melhor”, alerta.
Mesmo as pessoas que já têm alguma doença podem se beneficiar de um estilo de vida saudável. “Hábitos como os sugeridos ao longo desse texto podem evitar que diversas doenças piorem, ou que novos problemas se somem aos já existentes. Por exemplo, cuidados com a alimentação e atividade física podem melhorar o controle da hipertensão e do diabetes, diminuindo a necessidade ou as doses de medicamentos”, finaliza o dr. Avelino-Silva.
Fonte: Dr. Thiago Junqueira Avelino-Silva, médico do Núcleo Especializado de Geriatria do Hospital Sírio-Libanês